28 novembro 2009

Aquecendo os Sintetizadores

   

Parece que o lado claro da força da década de 80 (aquela...do século passado) definitivamente passou a ser resgatado de forma no mínimo instigante no final desses anos 00. Não falo da nostalgia barata vendida a rodo por aí de uns tempos para cá, mas sim de projetos que manipulam ou reformatam elementos daquela época, sem deixar de manter a contemporaneidade, fugindo da caricatura rasteira. Nada melhor para alertar os desavisados que, ignorando a amplitude do cenário musical então vigente, sismam em associar a famigerada década apenas ao lixo cultural que de fato nela também foi produzido, o que afinal de contas não é somente "privilégio" seu: lixo costuma ser gerado aos borbotões sem limitações espaço-temporais.

Essa equação renovadora pode começar, por exemplo, pelo divertido compêndio conceitual e musical declaradamente oitentista (e paradoxalmente não datado) do Neon Neon, projeto capitaneado por Gruff Rhys, e passar pelo caldeirão de referências de James Murphy, aí incluídos seu LCD Soundsystem e a gravadora DFA, que tem em seu cast nomes como Hercules and Love Affair e Yacht, ou então por álbuns emblemáticos como "In Ghost Colours", do Cut Copy, e chegar à perfeita "Zero" de um surpreendente Yeah Yeah Yeahs de final de década.

Agora, chega a vez do stroker Julian Casablancas, através de seu primeiro álbum solo, "Phrazes for The Young", recentemente lançado, dar a sua interpretação sobre os sons da injustamente denominada "década perdida" (qualificação lembrada pelo ilustrativo Coluna Mtv-106 que aborda esse disco: veja em http://mtv.uol.com.br/coluna/videos/coluna-mtv-106-julian-casablancas-monsters-folk).

Numa postagem anterior, publicada em julho (http://www.daydreamingspace.com/search/label/julian%20casablancas), já destacávamos o impactante trailer de concepção visual futurista/oitentista, que dava pistas sobre o universo sonoro predominantemente explorado no disco e no qual, comprovamos agora, a importância dos riffs de teclado é inegável. É o caso de duas de suas melhores canções, o synth pop "11th Dimension", com acabamento indefectível, chupado do New Order, e "Left & Right in the Dark", que ecoa as bandas britânicas A Flock of Seagulls, notadamente em "I Ran (So far Away)", e Ultravox (faz lembrar "Dancing With Tears in My Eyes"). Outras que enveredam por caminho semelhante são a derramada, quase new romantic, meio brega-barroca e recheada de cascatas de teclados, "Glass", e a envolvente "Tourist" que, mais comedida, conta com sintetizadores pontuando mais discretamente, além de metais. Já a cinemática "River of Brakelights" tem tratamento sombrio e tenso.

Porém, nem tudo são oitentismos explícitos e tecladaria desenfreada. "Ludlow St.", uma espécie de crônica particular da rua localizada no Lower East Side da Manhattan natal, tem um clima country sonolento que casa bem com a voz de Julian. Na mesma linha "raiz", mas sem dispensar programações eletrônicas, "4 Chords of Apocalypse", composta em parceria com Fabrizio Moretti e Nick Valensi, é uma balada bluesy que, ao mesmo tempo em que evoca Ray Charles(?), também é adornada por solos de guitarra no melhor estilo Joe Perry(!). Aliás, outros solos também soam assim, como que saídos da guitarra de um "metaleiro" farofento dos eighties, nas já mencionadas "Glass" e "Tourist".

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"River of Brakelights"

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