Entre os bichos que compõem o zoo-combo conhecido como Animal Collective podemos encontrar um que se esconde atrás da pele de um legítimo panda. O sujeito atende pelo nome de Noah Lennox e também responderá se você chamar por Panda Bear, alcunha de seu projeto solo, cujo disco, Person Pitch, foi aclamado em 2007, conquistando inclusive a láurea de disco do ano conferida pelo site Pitchfork. Basta ler o encarte do cd para ter uma noção da personalidade musical multifacetada do homem urso. Há agradecimentos a suas principais influências, começando com The Zombies e Neu!, passando por artistas aparentemente díspares como Pink Floyd, Ennio Morricone e Stooges, chegando a... Caetano Veloso e Tom Jobim! E todos são lançados sem piedade num caldeirão fervente psicodélico.
Uma suposição: talvez Person Pitch represente o embrião do que viria a ser Merriweather Post Pavilion com sua bem-sucedida pretensão de oferecer uma sonoridade mais acessível e músicas mais buriladas e aproximadas do formato canção.
Um fato: Person Pitch promove uma viagem psicodélica, calcada flagrantemente na sonoridade do Beach Boys. Talvez por este motivo, apesar de seus experimentalismos, tenha um viés "ensolarado". A influência da música oriental também é patente. A primeira faixa "Comfy in Nautica" lembra um mantra lancinante. Por que não tocá-la, então, em algum momento da Daydreaming?
São apenas sete canções e algumas delas ultrapassam os dez minutos de duração. Aliás, não sei se seria apropriado falar em canção no sentido estrito da palavra. Fiquei com a impressão de que na verdade a intenção é a de apresentar painéis sonoros. Há uma linha mestra musical que é sobreposta por intervenções de ruídos e de instrumentos que tomam a linha de frente. Os vocais adocicados e assobiáveis ficam frequentemente em segundo plano. São parcialmente diluídos e passam a "pairar no ar", enquanto os outros elementos sonoros prevalecem. Ao final de "Take Pills", por exemplo, a melodia é simplesmente varrida pelo barulho de um vento.
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