27 março 2009

Há 1 semana...

   

Conforme pré-anunciado por aqui, o fim de semana passado foi bastante movimentado. Mal tive tempo de me "recuperar" do show do Radiohead na sexta e já tinha que pensar na festa de sábado. Fiquei devendo, até a mim mesmo, uma impressão, opinião ou conclusão que seja, sobre a apresentação na Apoteose.

"Finalmente" a banda se apresentaria no Brasil e eu, surpreendentemente, não carregava o peso da espera comigo enquanto permanecia lá, em pé, observando a montagem do palco. Passaram-se tantos anos que acredito ter abandonado qualquer sensação de expectativa. Vejo isso por um lado bom. Estava ali como um curioso, alguém que apenas esperava por um boa performance. Como se tivesse esvaziado a mente para que tudo aquilo soasse como novo pra mim.

Começa "15 Step". O público acompanha descompassadamente a batida da música com palmas. E o primeiro susto: "How come I end up where I started?" grita Thom Yorke no microfone, com uma voz espantosamente cristalina, em alto, bom e claríssimo som, algo um tanto incomum em shows no país. Catarse coletiva. Porém, ao longo do show, percebo que "catártica" não é a palavra correta para definir a experiência. A multifacetada música da banda gera reações proporcionalmente difusas, e até confusas. Os momentos "rock" nem são tão "roquenrou" assim. As batidas são quebradas, bem longe da constância comum à música eletrônica.

Fica bem claro que nesta turnê do "In Rainbows" eles privilegiam a contemplação. Desde a hipnótica iluminação do palco até os arranjos doces e elegantes do álbum mais recente. E dá-lhe "Weird Fishes/Arpeggi", "No Surprises", "All I Need" e "How To Disappear Completely". Esta última, umas das minhas favoritas, causa um silêncio espantoso na platéia desde os primeiros acordes no violão. Não ouço sequer uma conversa perdida ou algum olhar disperso à minha volta. O final da canção é de arrepiar (você sentiu também?) e o público reconhece, aplaudindo calorosamente após aqueles minutos de pura concentração.

É cliché, eu sei, mas é inevitável falar dos "filmes" que passaram pela cabeça durante as mais de duas horas de apresentação. Filmes desfocados, mudos. "Street Spirit", "Paranoid Android", "There There". Diversas fases dos meus vinte e poucos anos desfilam bem à minha frente. Sensações, e não lembranças claras e detalhadas. Descrever é complicado. Prefiro nem tentar.

Duas horas e quinze. É o fim. Não bati cabeça, não dancei loucamente. Muito mais do que isso, fiquei com a sensação de ter presenciado um espetáculo musical completo, atual e relevante. E, convenhamos, em pleno ano de 2009, isso é algo bem raro. Obrigado, Radiohead.

5 comentários:

  1. Muito bom, cara. Parabéns pela resenha.

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  2. Nossa, você conseguiu explicar tudo o que eu tava sentindo...

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  3. Muito Lindo !!!

    O Radiohead conseguiu calar a apoteose. Foi impressionante.

    Parabéns pelo texto.

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  4. "Esta última, umas das minhas favoritas, causa um silêncio espantoso na platéia desde os primeiros acordes no violão. Não ouço sequer uma conversa perdida ou algum olhar disperso à minha volta. O final da canção é de arrepiar (você sentiu também?) e o público reconhece, aplaudindo calorosamente após aqueles minutos de pura concentração."

    ^^ ou seja, é progressivo :)

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  5. só quem foi e quem é loucamente (ou ja foi) apaixonado pelas musicas deles sabe como é. foi unico, mas. foi especial.

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