12 abril 2009

Oscillations

   



Em seu excelente álbum “Third”, lançado em 2008, o Portishead adota uma sonoridade mais crua, calcada em climas tensos, soturnos, pontuados por intervenções eletrônicas cirúrgicas flagrantemente industriais e que remetem a cenários urbanos devastados.

A chave para o entendimento dessa proposta deve ser buscada nos emblemáticos 1968 e 1969, anos de lançamento pelo pioneiro duo nova-iorquino Silver Apples de seu primeiro álbum homônimo e de outro denominado “Contact”, respectivamente. Tais obras estão dotadas do raro atributo da imunidade à corrosão pelo tempo, o que significa serem ainda hoje muito atuais e contemporâneas e, por isso, terem a capacidade de surpreender positivamente o ouvinte. Ao mesmo tempo em que trazem um quê de psicodelia, representam uma ruptura com os cânones da música psicodélica tradicional largamente praticada naqueles tempos, devido à inserção absolutamente original de elementos eletrônicos que iriam influenciar toda uma linhagem musical posterior, passando por Suicide e chegando ao já mencionado Portishead.

Enfim, "seminal" e “influente” são duas palavras-chaves para qualificar com precisão o que representa a banda, apesar de certa aura obscura e extravagante, bastando, nesse sentido, lembrar que o principal instrumento da banda, quase que um membro autônomo e sua principal estrela, em suma, a sua “assinatura”, tem o mesmo nome de seu músico operador: Simeon. Uma criatura que é a extensão do corpo de seu criador, tratando-se, grosso modo, de uma máquina composta de nove osciladores propriamente ditos e de oitenta e seis controles manuais, sendo que os “lead" e "rhythm oscillators” são operados com as mãos, cotovelos e joelhos e os “bass oscillators” são tocados como os pés. As levadas de bateria, a cargo da outra metade (ou terço, conforme o ponto de vista), Danny Taylor, revelam-se igualmente inovadoras e atraentes, não ficando atrás no quesito “anos-luz à frente de seu tempo”.

Alguns dos momentos que mais me divertiram na Daydreaming aconteceram lá pelas quatro da manhã, quando emendei “We Carry On” com “A Pox on You” (esta seguida de “Ghost Rider” na edição mais recente). Foi ótimo presenciar algumas manifestações de contentamento explícito com as oscilações, assim como a boa receptividade do público em geral, que manteve a animação da pista.
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Simeon e Simeon, the oscillator, em apresentação realizada em 2008 no Canadá. Destaque para o sensacional solo de oscilador:



Paternidade reconhecida. O DNA é o mesmo.
O mestre homenageando os discípulos:

2 comentários:

  1. Simeon fazer cover do Portishead! E logo de "We Carry On"! Que achado sensacional!

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  2. Fabiano Turbai13/04/2009, 00:36

    Também achei demais! Ele tem que vir ao Brasil!

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